quinta-feira, 7 de abril de 2011

sobre os jovens lutadores de ontem e hoje

no rosto ainda não tinham as marcas do tempo. vestiam jeans e camiseta. os tênis sujos e baixos se remetiam à época que brincavam de bola na rua. atentos ouviam relatos sobre dias de bestialidade. era 1º de abril de 2011 – há 47 anos logrou-se o golpe militar no brasil, que se forjou como um intento claro de interromper a entrada em cena dos trabalhadores e da massa oprimida como sujeitos da história. as mortes, a tortura os seqüestros e repressão de outrora funcionam ainda hoje como uma máquina do estado burguês de moer gente. e como uma máquina que também nos recria como uma gente sem história.

chegaram cantando. lá de dentro ouvia-se que aquele era dia de reconstruir a memória. punhos fechados, dedos em riste. a veia saltada na garganta. os sorrisos eram macios e iluminados. não traziam nas costas o peso das derrotas. mas carregavam nas mãos a bandeira das gerações anteriores: ‘abaixo a ditadura! povo no poder!’. entendiam que é preciso se rebelar contra as correntes do passado, que representam as apostas estratégicas equivocadas, e que teimam em atar nosso futuro [‘desatai o futuro!’ – grita maiakovski do ano de 1917].

sentados no chão seguiam ouvindo os relatos dos dias de chumbo. os ouvidos arderam com a história do jovem trotskista torturado e assassinado pelas mãos dos militares e da polícia política. se emocionaram ao ouvir do veterano declarar: ‘a partir de hoje vocês não podem mais dizer que não viveram tudo isso’. a memória, tão desbotada pela ação consciente e cretina das classes dominantes, recobrou suas cores e traços nas dezenas de olhos marejados. olavo hanssen simbolicamente renasceu ali. ele ressurgiu no compromisso de combate. combatemos por nós e pelos que estão a caminho. mas é também para honrar e fazer valer a luta dos que tombaram no fronte.

no outro dia, numa pichação em um muro da vizinhança, reconheci o rosto dos meus companheiros: ‘arquivos da ditadura – abertura já!’.


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somos a juventude que pulsa no ritmo de tahir. aprendemos a falar árabe em 11 de fevereiro deste ano. nossos professores, os trabalhadores em greve de suez. somos a juventude que exercita o francês desde 68 e no ano passado nos lembramos que este é um idioma conhecido. nas ruas de atenas, ao lado do povo, entregamos a papandreou um presente de grego: greve geral contra os ajustes do governo! na semana passada subvertemos a formalidade do chá das 5 nas terras da rainha. abram espaço para uma nova juventude! ela é valente, aguerrida e vermelha.


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http://www.ler-qi.org/spip.php?article2865

http://www.ler-qi.org/spip.php?article2866

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