o que explica estes caminhos não-percorridos até o final?
me faltou energia e fôlego. o eixo dançou feito bailarina descontente. o braço sofrendo com a falta da fortaleza muscular.
mas o que dizer, como justificar, se caminhos descobrimos andando, usando as pernas - essas que permanecem sadias?
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foi no exercício de sua função mais fundamental, o caminhar, fumando o rotineiro cigarro, que me veio à memória a sua conhecida habilidade - a habilidade delas, das minhas pernas.
pensei que a melhor maneira de valorizá-las seria lhes dar um desafio a altura:
"pernas molecas-em-forma-de-pinça,
descubram novas trilhas, superem as curvas e distâncias, o terreno desigual e o relevo íngreme!".
elas obedeceram ao comando que se expressou na forma de palavras.
as palavras se expressam no verbalizar ou na letra.
se é assim, a falta momentânea do comando, concretizada nesses meses (quase quatro!) sem o exercício da escrita, não se explica pela imobilização e fraqueza do braço, pela falta de energia e fôlego, tão pouco pelo girar do eixo.
eu posso dizer: "levanta e anda!". e é isso que eu digo agora:
levanta e anda!
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para mudar o mundo é preciso conhecê-lo.
à minha maneira o conheço através das retinas. aí reside a importância do conselho, que encaro como um mandamento: gardons les yeux ouverts.
conheço o mundo através das retinas. organizo o que conheço por meio das palavras.
se não as organizo na forma de conjugações verbais, adjetivações de sujeitos e construções de períodos, eu apenas vejo o mundo, não o conheço.
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[re]conheço agora que a mediação entre eu e o mundo são as palavras.
e agora que escrevo essas linhas restauro minha mediação com ele.
escrevendo restauro minha relação com este mundo-todo-vivo e [re]conhecendo-o só me vem à cabeça um verbo, conjugado no modo imperativo:
intervem tu.
intervenhamos nós.
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minha boca dita o comando:
levanta e anda.
com as pernas-de-pinça, corre o mundo. com as retinas, conheça-o.
com a destreza-que-tem-com-as-palavras, organiza o que conhece.
de mãos dadas e com a certeza de que carrega no ombro uma parcela-do-futuro-da-humanidade, intervem.
intervem tu.
intervenhamos nós.
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neste momento lembro-me do tango:
"con este poema no tomarás el poder - dice
con este poema no harás la revolución - dice
ni con miles de versos harás la revolución."
mesmo assim, sento à mesa e escrevo.
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palavra é coisa leve, o vento carrega.
ela só resiste ao tempo quando encontra o sujeito-que-realiza-o-verbo:
intervem tu.
intervenhamos nós.
cria tu.
criemos nós.
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ó vida-futura, nós te criaremos.
é a ação coletiva e consciente das massas proletárias guiadas pelo marxismo revolucionário!
é o partido, estúpida!
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